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Minha Vida de Pintor / LXXV

 
Melhor é jardinar. Muito melhor. Não que pintar não o seja, mas plantar, cultivar, colher, ver, cheirar, ter a sombra, os pássaros, os insetos, as pragas para matar, comer uns morangos, conversar com eles, umas goiabas, "pescos” (pêssego em Minas) -, e guiar cuidadosamente as plantas quando o necessitar, o ramo da videira, podar a roseira, por o esterco, capinar, enfeitar, selecionar, contemplar. Descinçar -, ou seria desinçar? a ação de separar o mato da planta, o joio do trigo, a planta daninha da planta cultivada. Conheci esta palavra num livro se não me engano de um dos viajantes do Século XIX. Estava grafada assim, com sc... e como o Aurélio não registrava, passei a escrevê-la assim. Só recentemente conversando com o Sérgio Rouanet  é que comentando a estranheza do fato, num dicionário tão completo, onde até eu era citado, recebi sua corretíssima indicação para que procurasse inçar. E não deu outra. Inçar era povoar de prole copiosa (de animais, especialmente insetos e parasitos. Logo, descinçar deveria ser desinçar e não servia para designar o ato de selecionar o mato da planta. Bravo Aurélio ... mas, que prazer o descinçar! O ordenar o jardim, à sua não-imagem e semelhança, deixando que o vegetal se instrua no local e cresça, o adaptando-se e mudando o meio-ambiente, e que dê semente! no exato momento em que o trovão forteja e relampeia, a rasgando e nascendo, o brotinho-bebê, vivo como eu. E que se danem os insetos copiosos! Pintores deviam pintar jardins. Por isso pedi ao Príncipe das Astúrias que me convidasse a morar e pintar La Zarzuela.  Sorte minha, ele declinou (depois, arrependido, ajoelhou-se a meus pés), pois Tiradentes é deveras ainda mais bela. Que prodígio isto aqui é. Verde geral, conforme o Sol, e a natureza da planta, verde alface, verde escuro e sombras -, agora mesmo, na Quaresma, as quaresmeiras roxas de paixão replicam tristes panos a cobrir tristes santos da Semana Santa, enquanto os sinos dobram (choram duas vezes). Só Cristo, fenecido, continua na cruz. Turistas adentram aos montes por estas pedras. Agora vêem menos, com a câmera digital, que lhe rouba mais o já curto tempo. Tiradentes, repentinamente, exponencialmente, é dos turistas, que passam quase indiferentes. Não é que venham consultar Bárbara Freitag ou ver minhas atrativas telas. Nada disso. Quando em grupo não param de falar, que somando-se ao tempo em que ajustam a câmera digital... quase não vem nada. Agora, com a adorável câmera digital, perdem mais tempo olhando a possível imagem, que jamais conseguem e mal vem, pois ela (a paisagem) passa. Babuska de santos. Um cruzado coexistindo e se insinuando no outro.  Mas, quem sabia? E quem queria saber? Bem, eu sabia e me deleitava sem esperança, ademais tinha a jardinagem -, mas, e ele? Sabia ele do jardim, do every thing in the garden? Duvido. Nem eu, em verdade, sabia. Também, pudera, estava imerso num mar de desinformação, crente de tudo, crente que sabia nadar, quando estava a me afogar neste vale de lágrimas. Onde? Onde enfim o outro lado da História? Parecia ter-se finito. Hoje, finalmente, os iranianos capturaram uns (pobres?) marinheiros de Sua Majestade a Rainha da Inglaterra Elizabeth. Era o que deviam fazer os argentinos nas Malvinas. Prender os ingleses. Foi o que fez Tristão Araripe, que inteligente que era não capturou ninguém, e sim o ouro do corsário Crochrane, o ouro dos ingleses. Tristão purificou o ouro dos ingleses, sem capturá-los. Como conseguiu? Não há registros. Creio entretanto que meu penta-avô e seus bravos companheiros deram-lhes chá de cogumelo misturado com extrato de canabis, muito comum naquela época, os adormecendo, pois o único relato existente diz que os confederados tomaram o ouro quando os ingleses estavam dormindo. Talvez tivessem uma confederada caprichada ou um sentinela confederado para lhes facilitar a ação, já que o navio estava ancorado ao largo do Jaguaribe, uma boa distância de uma milha e meia. Nadaram, subiram usando cordas, pegaram o ouro, não mataram ninguém, e não deixaram vestígios, tanto que só dois dias depois é que souberam da expropriação, quando Tristão já estava no médio Jaguaribe, a caminho do encontro com Frei Caneca, depois de ver os filhos e Ana, minha alegre penta-avó. Bem, os iranianos deviam soltar os fadados soldados e confiscar-lhes os dólares e euros, metendo-lhes a mão nos bolsos, daqueles pobres mercenários ingleses. Pois bem. A guerra está acabando com as guerras. Breve já não teríamos mais guerra. Os militares foram todos hortar, o banqueiros passaram o resto de suas enfadadas vidas admirando belas obras de arte, solitariamente, como castigo.
Mas, antes porém, falemos das Malvinas. Hoje fazem 25 anos que a Inglaterra mandou seus aviões e navios para tomar as Malvinas dos argentinos, pela segunda vez,  que por sua vez as tomaram dos pelicanos para sempre. Devo registrar que jamais senti tanto medo diante da brutalidade da guerra. Ainda que brasileiro, senti como se estivesse lá. E honra seja feita ao Presidente General Figueiredo, do governo dos militares, que não deixou os aviões ingleses pousarem no Brasil, antes e depois de atacarem os argentinos. Desde então, massacrado os argentinos, os ingleses são os invisíveis senhores do Atlântico Sul, pois possuem as Malvinas e os submarinos nucleares. A Argentina devia capturar uns marinheiros ingleses em Malvinas e exigir as ilhas de volta. Ou criarem um novo país, uma Malvina inglesa e outra argentina. Malviengland. Que beleza! Ou então viverem juntos nas duas ilhas, sem pertencerem a ninguém e serem país nenhum, ou separados, inglês ali, argentino aqui,m na mesma cama. Pelicanensis apátridas. Enfim, tudo é possível. Aqui entre nós, na arte não existe crise. Contudo, os ingleses deviam liberar as ilhas e tirarem seus submarinos atômicos das nossas costas. Repito. Posso imaginar o pavor dos iraquianos, dos iugoslavos, dos palestinos, afegãos, dos iraquianos, dos libaneses, só para falar dos povos de hoje, face aos bombardeios americanos e ingleses. Raça de brutos. Senti aqui. Desde as Malvinas. Senti para sempre, aquela máquina de horror, atropelada, alucinada, querendo matar, matar, matar. E pensar que este horror vem de longe...bem, volto ao meu jardim, que um dia longínquo criei. Não, não fujo, descinço. Como pintor estou sempre a julgar, a pincelar a vida que se esconde (às vezes) na beleza, e assim decido, o que deve viver, e o que vai morrer. Capim não. Salsa sim. Junquilho não, está demais. Onze horas com certeza, enfeita tanto, é tão generosa. Que lindas as Malvinas. Tenho sonhado com elas. Um dia, nas Itatiaias, compus meu mais belo poema pintado de uma paisagem. Dizia tão-somente assim: "Perpétua Roxa / Araucaria Augustifolia”.
Perpétua Roxa / Araucaria Augustifolia
Para mim, artista de pretensão pessoal, a pincelada era a pessoa e por mais que me fosse conveniente não digeria o indivíduo do modernismo e muito menos o do tropicalismo. Via ambos contra a pessoa. Foram ambos histriônicos, demais para o meu gosto. Equivocados. Só a imprensa e a tevê erraram mais. Modernismo, tropicalismo, nomes infelizes, duplamente infelizes nos trópicos. Mentiras muitas vezes mentidas, e que o foram sendo, o que não eram, e assim concordaram (os que ainda estavam e estão vivos) e com isto (e mais o ismo) foram mentindo contra a pessoa. Sim, a pessoa fora a bola da vez dos anos 60. Tudo o mais foi inventado pela mídia e pelas cabeças tontas que a propiciavam -, um inferno, o Brasil parou por mil anos. O mundo também. E o digo mil porque agora temos a internet; ou seja, meu menino pode fazer uma pesquisa no Google e achar que a resistência à ditadura global dos anos sessenta estava com os tropicalistas. Ora vejam. Mil vezes os meninos que lutaram ao lado de Carlos Lamarca, estes sim deram o sangue do nosso melhor, arriscando-se, e no entanto jamais foram incluídos (obsessivamente pela mídia burra) como o foram os parangolés, os babyyyy!!! O expresso dos comportados, travestido de nós, os meninos que apanhavam nas ruas, excluídos para sempre, e sempre mais excluídos. Se o és, caro amigo, incensado pelos golpes midiáticos, então é hora de ir-se às montanhas e plantar couves. O faça já, é melhor jardinar, é melhor hortar. Desinçar. Os artistas, os pesquisadores, deviam descinçar. Impossível não descinçar e alcançar a arte que brota à altura das mãos, muito longe dos olhos, pra lá da imaginação. Imaginem! Di Cavalcanti modernista. Duvido muito. Duvido que Tarsila também o fosse. Anita Malfatti era canhota. Nenhum bom pintor sabe pintar. Um artista quer ser comido e comer, em banquetes, se possível, daí esta impossibilidade do discernimento fora da pessoa, e esta fora da arte. Indivíduos não pensam -, tem intuição cega e estão a cair nos abismos. Os artistas voam -, buscam os precipícios, pois como viver no mundo de chão tão raso? Sem dúvidas, melhor é jardinar. O jardim, considere, principalmente se você pode andar nele, irá lhe descobrir a pessoalidade, logo após a perda da personalidade, ou seja, o pintor surge quando a pessoa aparece, quando o indivíduo e tudo se perde e só resta criar. Eis o poder da criação. Daí o pintor estar, como a arte, no princípio  de tudo. A arte cria a vida e a vida as cores, já dizia Oscar Araripe, procurando encontrar o inexiste antes. E bem mais que a vida a arte criou a natureza. Está no princípio de tudo, não depois, mas antes, antes mesmo da vida. Mas não pára aí.  Pois tudo começa com as cores e termina com as tintas. Só as borboletas permanecem, pra lá da vida e da morte. Ou seja, é muito bom ser ateu. O dia fica mais redondo e fico com a impressão de que devo ser mais ativo. Não crer me faz criar. Ou crer em não crer, pouco importa. O que vale é que minha vontade aparece quando perco a gravidade e saio do mundo. Não em órbita, pois que até as órbitas me irritam, mas voando, como um antigo réptil extinto, que pudesse vencer as malfadadas distâncias cósmicas e pousar nos novos mundos, os paraísos futuros, realmente sem pecado e pra lá do Equador. Tropicalismo...deveria, a rigor, ser chamado de Subtropicalismo, ou melhor, Subtropicalismo Temperado, já que somos tropicais temperados. Ora, pouco importa o mundo, em verdade. Damos por demais valor ao mundo. Grandes bostas! - diria meu amigo, o pirata Vicente Botin. Talvez, como sempre, ele tenha razão. Como não tê-la em Havana? Cidade incompreensível de rara beleza. Ainda hoje, dois anos depois, recorro lembranças de Cuba. Um dia ainda voltarei à Cuba e a farei rica e trans-socialista... tomarei sorvete de "mamãozinho” em Trinidad, jurarei falas de amor e de saudade num café de Trinidad. Pudera. Por fim, ateu. Que  tarefa! Nem Hércules venceu Deus. Mas, não fora eu aquele menino encarnado em Sansão, em Hércules, em David... tolo menino. Hoje não emprestaria 10 reais a David. Venci a pobreza, a indiferença dos invejosos (nossa, que guerra!), venci a ditadura, continuo lutando contra ela... embora às vezes penso estar perdendo, pois hoje creio tão-somente no governo do poeta. Pois bem. Fui expulso de Ipanema, do Rio, dos Estados Unidos, da Itália. Consegui permanecer somente duas horas em Mônaco da Baviera. Em Bervely Hills, mal pude olhar entre as árvores. Eu, sem carro, em Bervelly Hills. Em Roma, comprei, logo que cheguei, um Fiat Bertone. Várias vezes saí a passear com o poeta Giuseppe Ungaretti pelas ruazinhas de Roma, e como ele gostava! Era um velho e um menino. Tanto, que quase sempre pedia que eu estacionasse num lugar qualquer e ia comprar um objeto, geralmente de valor, que se dava de presente. Um chocolate (ele tinha uns 75 anos...), um livro de arte, num Natal se deu um Rolex de ouro! Só Ungaretti, em toda a Europa, me deu atenção. Minto. Sérgio Bardotti também. Sérgio, creio que já falei dele, mas, não custa repetir, morava num condomínio rico em Nomentana, nos arredores de Roma, numa espécie de comunidade de artistas bem sucedidos, como Sérgio Endrigo e o maestro Bakaloswky, da Argentina. Usava visitá-los, como disse, e bater um ping-pong. Sempre perdia, é claro. Um vez numa festa vi Florinda Bolkan. Fui a ela e disse-lhe que José de Alencar, que eu amava muito, devia tê-la visto num sonho quando criou Iracema, a mãe do Brasil. Muito inteligente, ela respondeu que assim sendo  eu a amava. Estarreci-me, mas mal pude responder, pois a Condessa Cicongna se imiscuiu entre nós e dez minutos depois eu já a amava também. Amores, todos perdidos! Minha casa não era minha, mal conseguia pagar o aluguel, alimentava-me de supli de arroz (bolinho de arroz restado) e por não ter dinheiro passava o dia a passear por Roma. Tinha uma bolsa de estudos, mas a Pro-Deo era uma universidade por demais chic para mim. Fui apenas a uma aula. Não me lembro de que. Todos ficaram me olhando, já estávamos no fim do ano, de modo que não voltei mais. Pegava o dinheiro da bolsa, pagava meu chic apartamento (davanti al Phanteon de Agrippa), e ficava a andar por Roma. Andei, andei como um desesperado. Se voltasse seria trucidado, se ficasse...mas como ficar? Melhor era andar... que um poeta só precisa de casa. Vi todas da Via Appia. Quis todas. Casas vermelhas de barro, vilas lindas, sacadas, terraço, jardins, tudo quis e nada pude, só andar. Andar, andar... sempre convidava alguém para andar. Murilo, meu poeta de Roma e de Minas Gerais, não andava, pois já era...sexagenário? mas, andávamos de ônibus. Sentávamos em bancos de pedra pelas praças de pedra. Ele sabia tudo. Um dia pedi-lhe que me concedesse levá-lo à Fontana de Trevi, local que ele amava mas não ia, pela grande quantidade de turistas que já nos anos sessenta a tornava quase insuportável -, pois, disse-lhe, ousava querer sensibilizá-lo para a beleza da fonte. Cavalos! Ondas, rios, águas, tão limpas como as do Rio Bonito do Pantanal do Mato Grosso. Cecília Meirelles, lembrei-lhe, escrevera um lindíssimo poema para a ondulante fonte, onde os cavalos a tomavam no lombo e voavam até às Arábias arcádicas...uma maravilha! Sugeri a Murilo acreditar que devia restaurar a Arcádia, ou a Nova Arcádia, ali davanti aos cavalos que havia impressionado Cecília, e ainda argumentei: "A Arcádia não tem culpa do capitalismo. Os artistas devem tomar o poder. Ou melhor, não exatamente” tomar” mais "fazer” o poder, já que "criar” estava pleno de intenções cruzadas embutidas”. Católico, admirador de Mao Tse Tung, reencarnação de Mozart, Murilo apenas sorria ao final das minhas "colocações”. Nos anos 60 era tudo "colocação”. De modo que minha intenção era colocar o meu amigo Murilo no contexto da Ação Popular. Parecia fácil - dissidente, católico das catacumbas romanas, meio-maoísta, ou melhor, maoísta-refinado, Murilo sofria naquele momento um amargo exílio na indiferença das autoridades e o povo do Brasil, formado por estas mesmas autoridades, por este mesmo povo de hoje. Sofrida existência a dos poetas fora do poder. Malsinada sina. Era urgente o invertermos. Se tivéssemos Murilo na AP teríamos a opinião artística e crítica da pintura européia e brasileira conosco, suas literaturas, músicas, teatros, enfim, teríamos a Cultura. Disse-lhe isto francamente. Era uma tarde de abril. Já no Tevere os plátanos eram de puro ouro, uma tarde de delícias iluminada de vívidos gozos repostos. Murilo exultava. Estava lindo. O cabelo muito penteado, os lábios finos, sua curvatura colossal. Falei-lhe do Presidente Frei, do Chile, disse-lhe que Guevara simpatizava com a Ação Popular e que somente os comunistas da linha moscovita nos digladiavam. Era tudo um sonho - arrematei, na fragrância de meus 20 anos bem passados. Murilo declinou. Era um poeta -, disse. Não podia pertencer a nada. Nem a tudo pertencia. Estava do lado da humanidade - disse, mas finalizou dizendo que contássemos com ele, mandou um abraço para o Presidente Frei e nada mais disse. O ar romano o impregnava. Eu mesmo, embebido, esquecia o que estava fazendo ali. Um jornalista brasileiro em Roma ao lado do grande poeta brasileiro que se autoexilara em Roma. Roma eterna como Tiradentes. Pedras por sobre pedras. Ao deixá-lo no fim da tarde em casa, disse-me que esperasse um poema da "Fontana” - como disse, e eu, um tanto ou quanto atrevido, respondi algo assim: ...sou daqueles que mesmo não gostando de países, estados, fronteiras, arames farpados...ponho minha mão sobre o coração quando ouço o hino do Brasil. De modo que entendo perfeitamente seu sentimento. Eu mesmo pertenço e não pertenço à Ação Popular. Pertenço porque já pertenci e ainda não temos a pessoa no governo da vida, mas não pertenço porque a arte impertence, sendo ela que me pertence, a poesia que tudo gera. A Arcádia o prazer, devíamos repô-los. O reflexo, caro amigo, não passa do refletido pintado de maneira mais suave, se a água estiver parada. Se revolta as linhas torcem, se mais ou menos, bailam. Só a linha era o efeito, até então. Agora tudo já não. Distorça a figura dentro d'água e faça umas linhas em torno, para tremê-la, se quiser ser desenhista. Se pintor, esqueça tudo. É só jardinar. O Crato existe no meu sangue e imaginação. Sonho em reedificar a casa de minha hexavó Bárbara de Alencar. Um dia ainda verei mudado o nome de meu quinto avô Tristão Gonçalves para Avenida Tristão de Alencar Araripe. O povoado do Araripe tem a melhor festa de São João do Brasil. A Chapada do Araripe pode ser considerada uma miragem: é a mais antiga, a mais surpreendente de todas: tem coqueiros e samambaião, em pleno sertão. Acho que a água do mar longínquo penetra por baixo da Chapada e jorra -, e a serra então se inclina para o Crato, verdejando o prado. Ainda se podem catar pedacinhos de louça chinesa de fino gosto nas ruínas da casa de Bárbara de Alencar, no Pau Seco. Fiquei pasmo, quis morar por lá, olhando as palmas do Araripe. Morar no Crato e esquecer do mundo. Acho que no Crato a literatura vive viva como em nenhum lugar do Brasil. Entrei na Catedral, vi os fósseis. Antigas fotos dos tempos dos barões do algodão. A Independência é uma questão estética (uma virtude dos pintores), não existe beleza na miséria. Liberdade é o Crato em Quixeramobim. Lugar arcádico por excelência. A Liberdade dos mineiros triunfou no Crato. A evolução à flor do chão, fossilizada e escancarada à vista de todos.
1- Todos me influenciaram, nenhum me influenciou. Gosto e não gosto, sou todos e todos me são.
2- A cor não existe. É uma invenção dos pintores. Deles e da artistizada natureza, enquanto ainda viva. O que existem são tintas que a arte transubstancia em cor. Bom pintor é o que faz das tintas cores, ao dar-lhe a vida. Mais que a natureza, o pintor pode ter a vida eternizada, morrer ali sem morrer, já que uma pintura quando viva não morre.
3- A cor, por sua natureza inexistente, é a essência da obra. É o que toco e vira ouro. O dourado é a reunião de todas as cores.
4- Assim como se pode aprender por si mesmo, as cores ensinam a vida. Aprendi as cores fazendo, soltando e fazendo pipas pelos muros e telhados no subúrbio carioca do Encantado. Era um alumbramento o ver-se aquelas galáxias coloridas dentro dos olhinhos das bolas de gude. Ali vi e vivi, menino, do alto de um muro onde um dia fora pegar uma pipa, o negro e o cinza do Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro. Fugindo dali, vi e vivi o luxo e o brilho das Escolas de Samba do Rio dos anos 50/60. No "poeira" do Engenho de Dentro vi os filmes coloridos dos desenhos animados da América vencedora da guerra. Ali vi meus melhores quadros, minhas mais belas pinturas. Um dia, abrindo uma bala Ruth encontrei uma figurinha difícil mostrando uma tela de Tintoretto, mas já contei esta história.
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