TRANCOSO
CASINHAS e MARINHAS
Um dia, há uns 15 anos, buscando belezas para pintar, conheci o Rio Araripe, em Trancoso, Bahia, Brasil - e devo dizer que literalmente quase me afoguei nele. Uma imprudência, não sei, foi tudo muito rápido; sei que me vi perdendo os óculos naquele rio meio fundo, estreito e de águas muito ligeiras. Mas, milagrosamente, numa fração de segundo, pude pegar no fundo da correnteza os óculos e, com eles, mesmo embaçados, achar os remos e desvirar o barco.
Bem, logo em seguida fui ao Quadrado e, visitando a Igreja de São João, vi que alguém roubava a pequena imagem de Jesus Menino, naquela época indefesa e mal pregada na mão de uma imagem de Santo Antônio. Imediatamente chamei um senhor de baixa estatura, afro-baiano e brasileiro, sem camisa, um tipo sério e que me pareceu morar numa das casas à esquerda, junto à linda Igreja do Baptista, tão linda, e com aquele mar tão humano ao fundo. O mais humano dos mares do Brasil. Bem, o homem agiu rápido e impediu o roubo.
Histórias...ah! o Quadrado de Trancoso. Vi muitas praças do mundo. Vi praças da China. Esta é a mais bonita e a mais majestosa. Uma idéia notável numa topografia invejável. A ampla taba de pequenas casas de grande beleza e cor, as casas que o povo tinha, a estética e a harmonia que as pessoas e as casas tinham, e tem, casas que venceram o Modernismo. Ali, naquele isolamento, naquela chã, o povo tinha a grandeza dos Reis - acrescida da mais bela e simples realeza. É que o Modernismo chegou fraco na Bahia e a Bahia soube se defender com a força do candoblé, aqui renovado pelo cristianismo mais humano, mais popular, o cristianismo de Nossa Senhora da Ajuda... e muita poesia.
Longa vida ao Quadrado de Trancoso.
Oscar Araripe / Junho de 2001
Trancoso
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