A tela representa o momento em que a heroína é libertada da Fortaleza, quase nua, e sua escrava liberta, apiedando-se e em grande respeito, cobre-lhe os ombros com a própria manta, aqui mostrada com o azul e branco da Confederação do Equador. O gesto faz Dona Bárbara cerrar os olhos e lembrar-se de sua Fazenda do Pau Seco com pequizeiros em flor, duas borboletas azuis, a sede, a capela, os campos cultivados e ao longe a Serra azul do Araripe, de sua juventude e dos encontros com os familiares, o rio barrento, os campos cultivados, o gado (as crianças daqui de casa gostaram muito das vaquinhas amarelas) e os vastos pequizeiros floridos. Ao fundo, como "uma linha azul no horizonte", como disse Leonel de Alencar Rego quando a divisou pela primeira vez, Dona Bárbara vê a Chapada do Araripe, em azul profundo, a proteger sua terra e sua gente. Completando a cena, um ramo de pequis verde e amarelo serve-lhe de ornamento aos cabelos e lembra-nos as cores brasileiras, que ali nasciam como ela.

Iracema no Ipu
Oscar Araripe
Bico de Pena / 2004

José de Alencar, o maior escritor romântico e indianista do Brasil, criou Iracema - a virgem dos lábios de mel, que aqui vemos banhando-se na Bica do Ipu -, revelando à nossa nacionalidade nascente a beleza e a dignidade da mulher brasileira, que ontem como hoje, na realidade e na fantasia, passeia pelas praias do Ceará, as mais lindas do mundo.