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Minha Vida de Pintor / LXX

Mudou, mudou o Natal, não eu -, que permaneço mudo a escrever pintando este tempo que passa de minha vida de pintor. De pintor e não só. A pintura seria um escudo, que uso e abuso para ser no mundo -, mundo raimundo e que às vezes pinto, sempre mais alegre que antes. Vencerei pela alegria - disse Promeu. Desígnio, fábula, nenhum mistério, somente problemas. Matemática e contradição. Enfim, alegre e triste continuo jardineiro. Poeta das coisas não fugidias, sem Deus vivo ou morto, diabólico alla fórceps neste mundo de Deus, espero, agindo espero, crendo na arte. Hei de encontrá-la antes de tudo, quando nada gravitava e  tudo se aproximava por puro desejo. Mas seria aquilo desejo? Estaria eu inventando um Deus pintor? Nada disso. Ou tudo isso. Penso grande, sou menor. Fabuloso, minotauro, fui esquecido e pintor. Problemático, sintetizaram-me antes mesmo de nascer. 40 séculos de pintura em minhas próprias mãos, outros 40 de literatura, não fosse esta pintura alegre, que acabei herdando. Seria herança aquilo? Tudo sombra, pouco sol. Acredite, o dinheiro mudou o Natal. Antes, mal comíamos aves do nosso próprio quintal. Hoje, mal comemos aves doentes da Sadia ou  falsas perdizes da Perdigão. Se a América do Norte e o Canadá fossem atacados por apenas um de seus muitos inimigos, ficaríamos sem chester e peru no Natal. Se atacassem a Inglaterra de Blair ficaríamos sem submarinos atômicos para defender nossas belas e produtivas costas. Bem, melhor seria deixar as aves, inclusive as do nosso quintal. Deixar a América, deixar a Inglaterra. Que horror esta França, que decadente esta Itália. Que casamento! O que houve com a Alemanha? Onde os anárquicos, os pintores-pintura da Espanha? Inacreditável festim. Movida louca. Frenesi de comidas...Ou talvez em um só dia na vida, quando a peste diabólica mais nos atentasse, nos permitíssemos ir à várzea caçar um marreco, como papai fazia, ele e eu, nos charcos de Itaguaí, um ex-belo entorno rural do Rio de Janeiro. Ou caçar um peixe (índio caçava peixe. Pescava fazendo-se imóvel, vá lá, mas...índio caçava peixe). Bem, aqui a guerra é outra, senhores pescadores. Mal diria, com muito mau gosto, ser uma guerra de pobres. É; tem sido assim. Nada mudou, exceto o Natal. Hoje morrem mais pobres, e mais ricos também. Morre-se por demais e por de menos. Quantos mis  no Iraque? Tornou-se trivial, sem festa, sem solenidade, isto de morrer. E no entanto que prazer, que vida, que luxúria de gozo vivo eu os meus dias de pintor... aqui em Tiradentes, onde os sinos batem a cada enterro, e todos ouvem o dobrado cruzado, queira ou não queira. A morte não tem nada de religiosa. Pobre de quem faz a fúnebre beleza. As pedras ficam, as mortes passam e ficam. E no entanto, que rico este Natal de 2006. O novo Natal dos Cruzados! Natal de Sadam Hussein. Quanta brutalidade. Conseguiram enforcar e decapitar um mesmo linchado. E no entanto eu aqui feliz neste ostensório de glórias mundanas...mesmo sem bacalhau, sem pecam, sem macadame -, mesmo sem azeitonas gregas e pretas, este foi o Natal mais mudado que passei. Imagino que tenha sido este dinheirinho que o Lula canalizou para os mais excluídos, e deve ter sido mesmo ele o responsável por esta ondinha de inserção consumística surfada pelo povo em geral, mesmo à custa de largos e caros crediários e exclusões sociais inalcançadas. Lula foi contra o enforcamento de Sadam Hussein. Pra mim, como ele mesmo queria, Sadam foi fuzilado. Eu é quem não vou negar-lhe esta glória, a única que pediu. Lula disse não saber ao certo se foi julgamento ou vingança. Ou seja, disse que foi vingança, já que julgamento não foi. Apoiou-se na abolição da pena de morte, e disse que cada país deve resolver os seus problemas. Faltou dizer que a pena de morte é regra nas tiranias, como a americana, e outras ainda mais disfarçadas. Contudo, uma pergunta se impõe: teria Bush ou Blair, ou Cheeney ou Rumsfeld a mesma dignidade e coragem de Sadam diante da forca? Duvido. Digo mais: teriam os soldados americanos e ingleses a coragem de se imolarem como os homens-e-mulheres-bombas da palestina e do Iraque? Duvido. Que mundo! Retroagido como jamais. Virou cruz, lua, espada. Hoje já nem parece hoje. Estamos sem idade e na pedra, pior, na mais cruel existência. Nem tanto. Luto hoje como nunca, jamais tão discernido e ainda me resta o amor - diriam. O Amor. Mas o amor, convenhamos, está bem inviável. Há exceções, como eu, miseráveis que amam, mas são raros. Como a pintura, o amor é raro. Como na pintura o amor necessita de soldados da arte, os soldados do amor, que vão na frente e no campo sensibilizando os brutos. Vai ficar: Os Brutos Também Amam. Tudo bem. A arte, como a natureza, é por vezes muito cruel. A natureza parece não amar mais que amar. E está ainda reencarnada de cores. Mais parece tinta acolorada. Pura guerra sem paz. No entanto, os americanos deviam pintar, e os ingleses jardinarem. Parar a guerra cega e sem cor. E que está a acabar com o mundo. Ironia... Sadam, o grande criminoso, enforcado ao lado de Bush, pobre Bush, enforcado com Sadam, pobre Blair, todos enforcados juntos. Idiotice general. O ser, mais urgente que nunca, deve superar a forma. A despeito de tudo. A arte criou a evolução. Deve ter criado a forma do mesmo jeito que um pintor uma paisagem, com flores e borboletas. A paz estou convencido, não passa de uma jarra de flores. E as flores devem ser pintadas como se não fossem flores. Ainda que as borboletas jamais. A paz , então, seriam As Três Graças. E todas as Graças foram e devem ser pintadas. Eu as pinto como borboletas, bailando, borboletando sobre flores que nem são, mais parecendo manchas estilísticas, pois a paz é o estilo. O estilo, não a lança -, o pincel, não a metralhadora -, a tela, não o campo de batalha, o vôo, o vôo pelo vôo. E lembrem-se: todo mundo tem estilo. Ainda que difícil seja vê-lo, pois o estilo ainda não é a pessoa. O estilo é apenas um vento num bambual. A pessoa não tem estilo, ela é o estilo, dois ventos no bambual. Assim pode-se dizer que a paz é mais que o estilo, a paz são as cores. Um governante só deveria pensar em como fazer das tintas cores. Só isso. Devia governar pintando. Ver a estética antes da técnica, esta coisa finita e arquitetada, inclusive por mim. Exemplo: o IPHAN. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que não deixa que eu, artista e dono da minha própria casa possa decidir sobre um muro de meros 30 anos. Ou seja, além de não reunir com os proprietários e moradores para decidir sobre as modificações e construções de suas casas (criando com isto uma oposição com a comunidade), o nosso Patrimônio está mais preocupado com os tijolos, com as jogadas arquitetônicas, definindo cores ao gosto de imobilizadas improbabilidades históricas, como se vivêssemos num quartel de um tempo de guerra. Ora, gostaria de saber do Ministro Gil se ele deixa nossa Fundação demolir o muro interno, de 10 metros, da entrada da nossa Fundação, que separa nossas duas casas, considerando ser o muro de pouquíssima extensão, construído recentemente, sem moledo, adobe ou pedra, sem valor histórico, e num lugar público, ou seja, na entrada de uma Fundação, com galeria de arte e outros projetos culturais e sociais. Perguntaria também ao Ministro se ele consentiria em rebaixarmos 13 centímetros no pátio de uma das casas, para que o público pudesse não tropeçar nas escadinhas de um degrau que o IPHAN quer nos impor e que temo possa causar acidente nos que nos visitam. Enfim, gostaria de saber do Ministro se eu, artista consagrado, posso decidir técnica e esteticamente sobre a minha casa e Fundação artística, cultural e social em Tiradentes. Ou não? Duvido que o Chico Buarque, se fosse Ministro, não resolvesse isto melhor. Enfim, se o IPHAN baixar o muro até que possa ser transformado nuns bancos eu aceito. Enfim 2: Com degraus de 13 centímetros no meio do caminho eu é quem não vou me responsabilizar pelos eventuais acidentes.
Trancoso com Monte Pascoal e Maritacas / Bahia / 1999
Pobre eu, portanto, pintor brasileiro, a perder tempo lutando contra o IPHAN. Escrevendo contra, eu que só pinto a favor. Ora, eu não quero lutar contra o IPHAN. Eu sou o IPHAN. Agora, sabe lá o IPHAN disto? Esta é a questão: não vejo como um murinho recente entre dois espaços culturais de minha propriedade, de casas que sempre pertenceram a um só dono, e de estilo igual, possa ter importância para Tiradentes, cidade ameaçada por um crescimento desordenado e incontrolável, isto sim, onde os poderes se digladiam e o IPHAN não congraça. Por mais que pareça estranho, eu não sou um carro. Ou seja, eu não devo ser afastado da cidade, como os carros que hoje a infestam. Antes, eu sou a cidade e não estes carros que entulham a cidade / quosque tanden? Também não sou um pirata da especulação imobiliária, sou um simples pirata do Caribe, destes bem antigos e de Antigua, o temível El Brasilero, que tomou Santiago de Cuba (onde expus recentemente Repetróglifos Caribenhos), nada mais. ...Com meu amigo Vicente Botin acendemos uma fogueira na praia e ficamos a ver o brilho das gemas que capturamos, como Tristão Araripe o capturou, dos corsários ingleses. Memórias. Ouso dizer que a memória não está nos muros, nem nos sonhos, pois ela sou eu. E toda minha imaterialidade, que gostaria de doar... pro IPHAN. Ouso dizer é melhor que ouso saber. Dou meu patrimônio imaterial em troca do bruto e insignificante muro, que nem velho é, pois é muito mais novo que eu. Ora, o que vale este muro sem valor? Nada. Mais vale uma entrada aumentada em um metro para uma bela Fundação artística e cultural que um muro, digamos, vergonhoso e de meros poucos metros. Homens muros, sempre os digladiei.
Casas roxa e amarela / Quadrado de Trancoso / Bahia / 1999
Mas, falemos do intangível, pois o IPHAN acabou por me dar razão (mudou a direção, que agora é sábia e isenta) e hoje a entrada da nossa Fundação é digna do nome. Ganhamos nós e a cidade. Portanto, o intangível somos nós. Tiradentinos. Intangível é esta inusitada cidade. Intangível, tangível e volátil. Antes fora Ipanema. O Brasil, como disse, era Ipanema. Um dia Roma foi Ipanema. Depois se alternou para os fundos do mato. Saúde era viver no mato, não trabalhar ou só trabalhar no que quisesse. O melhor eram as hortas e os pomares, e os apiários. Mas nunca acontecia assim, pois. O mundo não mudara lá fora. Acabava-se por restar-se tão pobre que a saúde carecia no dolorido padecimento, os dentes caiam, e o novo homem ia definhando em várias tuberculoses de tristeza. Amo e odeio a natureza, admiro-lhe o horror, enfim. Passei treze anos no mato, só, quase na natureza, como um louco na montanha, eremita sem eremitério, pois ninguém me levou pão e água, e ninguém amou a natureza mais que eu. Se Tristão amou o Brasil, como amou, eu amei a natureza, e como amei. Por isso a odeio tanto. Também por isso rebelei-me com a autoridade paterna e escolar, militar e democrática, e contra a natureza que me fez errático neste mundo errático. ...Multiplicar? Como copiar sem errar? Quero saltar. Não, não sou prisioneiro da natureza das réplicas enganosas. Melhor é não pensar. Viver, e tão somente. Beber vinho com os amigos. Banhar-se no frio numa jacuzzi aquecida a somente 3 reais por dia. Não, não quero não pensar. Quero pensar até explodir, que seja, mas não deixar de pensar, questionar. Questiono, pois - malfadado Sadam. Alá não existe. Para onde foi Sadam? Revejo seus passos firmes, seu luto impecável, sua consciência do porvir. Pobre herói insolicitado. Sua alteza negra ante humilhação mais brutal. Criminoso santo. Não, não o admiro. Senão como inimigo deste Estados Unidos (os inimigos deste Estados Unidos são meus amigos) -, senão por todos os senões, Sadam não deveria ter sido linchado. Bush linchou Malik que linchou Sadam, pois. Como pintar isto? Ou um anti-isto que tudo dissesse com beleza e arte, verdade e para sempre? Caro desafio. Penso e não releio nada, apenas penso naquele homem de preto, agora sem defesa, sendo levado à força à forca improvisada num quartel disfarçado de tribunal, dos Estados Unidos, que tanto quis e amei um dia, a América que conheci no Charles, em Boston, a América de Harvard e Berkeley, da Concorde de Thoureau... a América de Jefferson (Deus, ele não acreditava em você) - qual, qual americano mais admiro? Hoje seria Steve Pinker, que estou lendo, mas, na História, qual americano eu mais gostaria? Rosalinda Carter...talvez, sem ela não teríamos acabado com a Ditadura dos militares. A rosa linda. Mas qual? Qual? Procuro e não acho. Infernal palheiro. Levanto luzes, candeeiros aos céus e nada, não vejo nada, não passa ninguém. Martin Luther King. Talvez John Harvard, o sapateiro que, dizem, criou a Universidade de Harvard. Talvez James Dean, que tanto amei, ou Julie Harris, ah se tivesse me casado com ela! Talvez Judith Malina, grande mãe do Living Theatre e que sabia fazer baseados finos como ninguém. Talvez Thimothy Leary, talvez Little Richard. Cornell Borsh. Marylin. Marcuse. Não sei. Onde a América que conheci? Perdeu-se em Harvard Square, no Village, à-toa, à-toa. No fim, ficou a música. O Bread and Puppet.  A música americana. A romântica. Toda música americana é romântica. Esta foi a América que ficou. Espacial. Cole Porter na Lua, Janes Joplin em Saturno, John Lenon em Netuno. 
Falésia / Trancoso / Bahia / 1999
Pois bem, eu é que não choro pela América. Choro pela Venezuela, pela Nicarágua, por Cuba e Managua.... pois eu, um pintor que escreve chorando, raramente choro. Mas, deveria um pintor, simples como eu, chorar? Não seria melhor pintar, e como a natureza repintar? Pintar alegre, depois de ser a alegria. Pois o sol, mestre ator e inventor de todas as cores, naquela manhã radiosa, ia flechando seus raios dourados e fazendo brilhar aquelas tintas inanimadas que jaziam adormecidas nas rochas ainda ígneas da Terra. Terra de Siena. Um dia, em Siena, Melina Katrina amou-me num pálio, enquanto os cavalos galopavam pelas ruas embandeiradas e eu ouvia satisfeito e farto os seus gemidos de amor. Encostei-a num tronco de árvore. Era um plátano. Medrava-me engravidá-la. Sarrei-a até o esfolfar-me, insatisfeito e apalhaçado, por ter aquele grande amor roubado. Mas nunca deixei de amá-la. Como? Se entre nós o dinheiro, esta diabólica invenção criacionista, o seu desenho mais inteligente, diabólico mesmo, fazia e muito mais desfazia todos os nossos passos, enchendo-os de absoluta carência. Digo total porque sempre fui pobre. Fiquei rico com a pintura, porque a pintura era o verdadeiro dinheiro. Finalmente, conclui-me um pintor falsário, um escritor falsificado. Filântropo, purificador do falso dinheiro alheio, eu olhava distraído minhas próprias pinturas como que descrente e maravilhado. Jamais errei um quadro. Surpreendo-me de tudo e por tudo que escrevi. Maravilho-me, mas nem tanto. Então, como acreditar que eu, artista tão honesto, pudesse pintar o verdadeiro dinheiro? Bem, falsificadores de falsidades o mundo estava cheio. Difícil era achar um prestidigitador capaz. Como teria evoluído ele, o mágico que fazia tudo saltar? ...Sabia que a arte, e só a arte podia anteceder-se à vida, pois assim diziam as cores e as linhas. Ora, as cores não valem nada, as linhas são para as palmas das mãos. Não falam. É o traço que faz a cor. E o traço não sou eu, é a arte. E é a arte que faz o traço, assim como o Sol faz as cores. As cores da Terra. Não, não valem nada. Valem as habilidades herdadas e elaboradas, sintetizadas, vá lá, as capacitações natas e adquiridas, mesmo antes do tudo. Tudo, todo o tudo vinha depois, depois da arte. Mas, e a arte? Vinha da onde? De Deus, das mãos de Deus, como dizem todas as religiões tementes à morte? Não, não creio. Creio na mão mas não creio no ser. A arte fez o ser. Primeiro o olho, depois a mão. Pronto. Uma teoria para pintar e viver a vida a pintar. Uma teoria de Promeu. Estávamos quites. Eu olharia para trás, como um Humble orbitado, procurando a arte naquela ruína inicial, quando e onde nem o fóton ainda se animara, esperando, como nós, pelo mundo da vida, que, por fim, era eu, o pintor. Aquele sim era um mundo de morte. Nada havia naquele nada. Nada, nada que pudesse me sustentar um desejo, se desejo aquilo fosse , e nem mesmo da luz nada fluía. Era o morto mundo inicial, arcaico e sem cor. ... Até que a arte surgiu absolutamente do nada. Antes arte do que nunca. Imagino que aquela arte primeva, derradeira, estivesse dizendo, ou mesmo pensando, quem sabe até pintando. Eram tempos confundidos. Fantasia e capital. Mas, vade retro - eu dizia, ou melhor, meu pincel, minha mão dizia, ou melhor, pintava, escrevia e repetia ser a essência a arte, e não o ser -, e que, para não complicar muito e fazer fugir a imaginação, digo que se assemelhava a um perfume, por exemplo. Talvez, por incrível que pareça, o perfume tenha criado a arte, antes mesmo que a arte tivesse criado a vida. Era a teoria da  Lua Perfumada. Grandes palavras! Olho este jarro que pintei para Clara Feldman e me pergunto como pude fazer uma coisa tão bela e imperfeita, tão linda e desajeitada, tão intangível. Intangível imagem. O que teria acontecido conosco? Em Roma, morei no Palazzo Crescenzi, num quartinho duplo que era mais uma janela do Quatrocentos ao lado do Panteão, ou seja, um imóvel construído antes do Descobrimento do Brasil. Como, portanto, podia o Brasil ser ainda um país? Ou eu um pintor? Pintor?...pintor era Fragonard, era Guignard. Não há mais pintores. Restou eu. O último dos pintores. Uma vez, na Galeria do Jean Boghici, ele presente e mais o grande pintor Emeric Marcier, que expunha paisagens de Minas, eu, ousado estreante pintor, querendo dizer que a minha tela de poliéster vela-de-barco seria a tela do futuro, disse que Marcier era a última tela (de pano). Rápido, Jean, que era muito experto (ainda que misântropo) pediu-me que escrevesse o que dissera no livro de presença. O que ato contínuo fiz. Mas, pouco importa. Hei de pintar. Começo a pintar. Como pintar Ouro Preto 15 anos depois? Estive lá visitando, anteontem. A Igreja de São Francisco está deplorável. Já não são mais brilhantinas, são arbustos; ou seja, quando nasce figueira do tamanho de arbusto nas ribeiras dos telhados e fachadas isto quer dizer que pelo menos quinze anos de descaso se passaram. O Palácio dos Governadores nunca esteve tão imundo. Mas, mesmo assim,  acho que as coisas estão melhorando por lá.
A Igreja de São João e o mar de Trancoso / Bahia / 1999
Tiradentes Repintado / Quão distante vejo hoje, 15 anos depois, Tiradentes de Jesus Cristo. Pobre ambos. Cristo continua cristo, cada vez mais cristianizado, cada vez mais filho e pai, e Tiradentes mais parece tão-somente um nome numa linda praça, numa boa escultura -, mas, ainda, num enorme estacionamento, enorme e barroco, não custa repetir. Faltam tiradentistas, inconfidentistas, e a fazenda do Pombal continua esquartejada. Onde Cecília, Manoel, onde Renina? Onde Guignard?
Contudo, este Tiradentes Repintado é ainda mais alegre e vivo que O Animoso Alferes, de 1992, que pintei quando aqui morava.
Ouros Pretos de hoje, por sorte, vão se parecendo com Ouros Pretos de ontem. Oxalá o prefeito mande novamente polir e fazer brilhar a animosa imagem da Praça Tiradentes. Tiradentes Rebrilhado. Brilha Ouro Preto. A ESSIM, a Escola de Samba Inconfidência Mineira voltou a desfilar, desta vez com Carmem Miranda. Reabriu o Museu da Inconfidência que deveria ser da Conjura, e a 21 de abril nasceu, qual fênix rediviva e transformada, um Centro Cultural em plena praça da Estrada Real, também recém-formatada. Hoje, já se vai e se volta de trenzinho à Mariana. Quem diria? 
Casa no Quadrado de Trancoso / Bahia / 1999
Cada vez gosto mais da idéia de um bondinho tipo São Francisco para Ouro Preto.
Mas, faltam livros, imagens, idéias, falta a cabeça de Tiradentes, o amor e a consciência do Porvir e da Nação. Como Tiradentes, falta Tristão Araripe, neste país ainda de um só herói, de um só arquiteto, de um só poeta, de um só alferes.
Bem, eu sempre pintei Ouro Preto radiante, pois só sei fazer assim. A pintura sempre precede a tudo, exceto à arte. Esta eu credito às minhas mãos. Às vezes penso na inteligência, na mente, mas credito esta graça, como disse, a meu crânio defeituoso. Sem ele eu seria apenas um artista plástico, jamais um pintor. Na escola dos meninos de cabelos raspados ou cortados a Príncipe Danilo, os colegas troçavam da minha pós-protuberância craniana e me davam cascudos no quengo. Jamais esquecerei. Grande humilhação. Como era custosa, pesada, malfadada a inteligência. Sorte (como a arte) a inteligência só ser dada ab ovo. Nada de fantasmagórico, porém. A própria arte parecia ser a inteligência em seu estado arcaico e mais energético. Epa! Não, não havia energia nenhuma naquele mundo primeiro. A energia vinha depois, se é que veio. De qualquer maneira surgiu muito tempo depois que a arte acendeu seu fóton tintado e criou o azul da Prússia. Primeiro o azul da Prússia, por fim, o azul de Ipanema. Tardes de Ipanema hoje são tardes de Tiradentes. As cores nascem com a manhã e voltam a reviver nas tardes. Nada igual. Manhãs, tardes, pinturas. Fico pensando:...será que a pintura, como sempre, é a criadora destas tardes de rosa e amarelo, destas manhãs de anil? Com certeza. O problema é que nem toda arte é boa. O fosse e o mundo seria magnificamente perfeito, já que a arte o havia criado. Cada vez gosto mais da idéia de um mundo perfeito. O mundo pincelado. Mas, a arte é rara e o mundo está mais ruim do que nunca. Quem imaginaria que os cruzados tornariam? Que Saladin seria novamente herói ? Tudo bem. O que se há de fazer? ... Resta o consolo que do ruim possa nascer algo de bom, embora acredite mais que do bom possa nascer um bom melhor. Por fim, como falou Promeu, não pensem que a arte é algo humano ou divino, não, a arte é como o mineral, antecede à essência da substância (se é que existem), salta para o vegetal, anima o animal. De modo que a questão é como fazer os artistas, os executores da arte. Hercúlea tarefa nada fácil. Como as rochas com a terra, os artistas confundem-se com a arte. Mas a arte, por sua vez, ou melhor, esta arte, não é um vírus bom, a nos inocular a bela paisagem, a libertadora verdade (nem que fosse por um minuto), a crença na vida que antecede à morte, a vida artística, esta vida única. Vida esta e única. Pudesse eu, colorido pintor, contudo e prosa, saber dos problemas (e falsos mistérios) de todas as vidas. O que sabia eu das pedras? Por exemplo. Sei um pouco das raposas, pois sou uma delas. Olhei minhas carpas no meu lago por três anos, dia a dia só fiz isto. Apenas sei que gostam dos humanos. E que são seres belos e erráticos. Nada mais, ou apenas um pouco mais: sei que as raposas são seres de sólido caráter, mas armadilhadas, como os homens. Um dia, em Bangkok, após ver o Buda de Ouro, fingindo que estava dormindo, sonhei que era um pintor armadilhado numa guerra Bush/Rice e, como uma borboleta de polódio poluído, estava a me metamorfosear num miliciano (da arte) contra os loucos poderosistas do capital, os senhores deístas, teístas e agnósticos. Não contente, vi-me na iminência de ter que comer um rato, pois, pintor palestino, vivendo refugiado no Iraque, caçado na Somália, não tinha nem um tostão para comprar um pão, que, aliás, nem havia. Senão para as forças americanas e seus aliados, forçados aliados, que por sinal, eu, rico pintor do Brasil, não emprestaria 10 reais. Como, como confiar num escravo tão ignóbil? Mil vezes a arte, mesmo errônea e de memes assustadores, melhor ela. Enfim : Sem guerra, ou sem Deus, a arte há de moldar a Terra.
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Coleção 2020/21 - Flores, Tiradentes Rediviva e Iluminuras
Arte nas Escolas / Arte-educação é fundamental / Educa, ensina, sensibiliza e eleva os professores e os alunos.
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